O Paraquedista

Num dos exercícios conjuntos entre quartéis, um gaguinho, que estava servindo como artilheiro, fêz forte amizade com um PQD, ficando fascinado pelas proesas realizadas por êste.
O salto de Para-Quedas, o vento no peito, a queda livre antes da abertura do "pano", o imenso espaço, a grande cidade, pequenina para os olhos ao ser vista lá do alto, a sensação de liberdade. Realmente um mundo diferente e maravilhoso.
O tempo passou, ambos deram baixa e os contatos entre eles foram ficando esporádicos, mas o interesse e o entusiasmo do gaguinho pelo paraquedismo não diminuiram.
Eis que, num dêsses raros encontros casuais entre os amigos, o PQD revelou-lhe uma novidade :

Meu amigo, eu agora sou professor de paraquedismo.
Ve, ve, ver, verda, verdade ?
É, e estou indo muito bem.
Que, que, que bo bo, que, que bo bo, que bo bom, bom bom, né !?
Olha, sem ser êste, no próximo domingo, eu irei entregar os diplomas à minha mais recente turma de estudantes. Será um espetáculo com o salto dos formandos e com equipes anteriores que se especializaram em acrobacias, eu gostaria muito que você fôsse.
Pu, pu, pu, pu puxa, o, o, obri, obri, obri gaga, obri gaga, obrigado, me, meu, a, a ami, amigo.
O PQD explicou onde ocorreria o evento e ficaram combinados.
Não deu outra, o gaguinho, ansioso, ficou contando os dias, muito morosos, passarem até que chegasse o qual realmente lhe interessava. Horas antes da solenidade começar êle já estava ' plantado ' no local. Seu amigo, o professor PQD, ainda demorou bastante à aparecer, mas chegou um bocado antes do deslanche da cerimônia, sempre gostava de checar se tudo estava correto.
Ao avistar seu amigo gaguinho chamou-o para o angar onde se encontrava, assim como os alunos recem chegados para os últimos preparativos. Nêsse interim foram chegando os outros profissionais da equipe e, aos poucos, os familiares dos formandos.
Tudo correto, o PQD se despediu do gaguinho indicando-lhe um dos melhores pontos para assistir ao espetáculo:

Gaguinho, daquí você assistirá os saltos com muita boa visão e sem que o Sol ofusque seus olhos.
Pu, pu, pu, pu puxa, o, o obri, obri, obri gaga, obri gaga, obrigado me meu, a, a ami, amigo.
Não tem de que meu amigo.
Lotaram o avião e alçaram voo.
Minutos depois de estarem no ar os alunos paraquedistas começaram a saltar pelo espaço de forma coordenada, segundo a orientação do instrutor.
O show foi bonito de se ver. A maioria atingiu o ponto de aterrissagem com boa precizão, apenas uns dois ou três desceram em lugares mais distantes, mas sem maiores consequências.
Depois o avião voltou ao solo para buscar os acrobatas. Novamente no ar, dêle se lançaram os profissionais com coreografias incriveis e destrezas fantásticas.
Pousado o aeroplano, o mestre PQD prosseguiu a cerimônia com a entrega dos diplomas e cumprimento aos formandos e seus familiares. Foi aquela festa, os familiares passando da apreenção à alegria, os alunos não cabendo em si pela façanha alcançada, tudo beleza pura.
A esta altura, o gaguinho estupefato, não tinha mais nenhuma dúvida, ia se inscrever como aluno de seu amigo para a próxima turma. E assim o fêz.
Acostumado com o regime do exército, na hora do curso, êle via o amigo como seu superior e se empenhava tanto que da turma êle era, de longe, o melhor. Seu amigo PQD não escondia a satisfação pela dedicação e facilidade de aprender que o gaguinho demonstrava, e isto estreitava ainda mais a amizade entre os dois.
O gaguinho fazia tudo correto; dobrava o paraquedas com perfeição, esteva experte nas aulas teóricas, mas não se aguentava mais de tanto aguardar as aulas práticas, o salto com o paraquedas lá do alto do avião, as práticas do solo já estavam se tornando monótonas para êle.
Enfim o dia dos saltos do avião chegou. O mestre PQD relembrou suas recomendações :

Chequem tudo uma vez mais, verefiquem os paraquedas, o principal e o sobressalente. Quando saltarem do avião contem até dez e puxem a cordinha do paraquedas principal. Se o principal falhar não se apavorem, puxem imediatamente a cordinha do sobressalente.
Deu tempo para as verificações e perguntou :
Tá tudo certo ?
Tudo oquei professor. - Responderam quase unissonos -
Então vamos todos para o avião.
Chegou o dia meu amigo
- Dando uns tapinhas no ombro do gaguinho que não cabia em si de tanta felicidade -
Lá do alto do avião foram saltando os alunos, dez ao todo como normalmente. O gaguinho foi o sexto. Depois que o décimo saltou o PQD exclamou desesperado para seus auxiliares :

Meu Deus do céu !!! eu me esqueci de mandar o gaguinho contar só até dois !!!
O PQD ficou numa depressão e angustia profundas, ansioso que o avião pousasse para saber se havia acontecido algum milagre.
O avião aterrissou e o PQD pulou logo do avião e saiu rapidamente em busca do amigo, ou do que teria sobrado dêle.
Depois de procurar em algumas direções, duma determinada viu aproximar-se, correndo ao seu encontro, o seu amigo gaguinho.

Puxa amigo, graças à Deus você está vivo, mas diga-me: como você conseguiu contar até dez à tempo ?
Sô, sô, sou ga, ga, gago, ma, ma mas, nã, nã não, sô, sô sou, bu, bu burro, e, eu com, eu com, eu contei, com, com o pem, pem, pensa, sa, sa, penssamento. - Com um sorriso maroto ao perceber a apreenção do amigo. -
Puxa, ainda bem.
Joahermen